Vladimir Maiakovski
Tradução Haroldo de Campos
A vós
– barítonos redondos –
cuja voz
desde Adão até a nossa era
nos atros buracos chamados teatros
estronda o ribombo lírico de árias.
A vós
– pintores –
cavalos cevados,
rumino-relinchante galardão eslavo,
no fundo dos estúdios, cediços como dragos,
pintando anatomias e quadros de flores.
A vós
rugas na testa entre fólios de mística
– micro-futurista,
– imagista,
– acméistas-
emaranhados no aranhol das rimas.
A vós –
descabelando cabelos bem-penteados,
barganhando escarpins por solados,
vates do Proletcult,
remendões do fraque velho de Púchkin.
A vós –
bailadores, sopradores de flauta,
amolecendo às claras
ou em furtivas faltas,
e figurando o futuro nos termos
de um imenso quinhão acadêmico.
A vós todos
eu –
que acabei com berloques e dou duro na Rosta –
gênio ou não gênio, tenho
a dizer: basta!
Abaixo com isso,
antes que vos abata o coice dos fuzis.
Basta!
Abaixo,
cuspi
no rimário,
nas árias,
nos róseos açafates
e mais minincolias
do arsenal das artes.
Quem se interessa
por ninharias
como estas: “Ah pobre coitado!
Quanto amou sem ter sido amado…?
Artífices,
é o que o tempo exige,
e não sermonistas de juba.
Ouvi
o gemido das locomotivas,
que lufa das frinchas, do chão:
“Dai-nos, companheiros,
carvão do Don!
ao depósito, vamos,
serralheiros,
mecânicos!”
À nascente dos rios,
deitados com furos nas costas,
– Petróleo de Baku! – pedem navios
uivando nas docas.
Perdidos em disputas monótonas,
buscamos o sentido secreto,
quando um clamor sacode os objetivos:
“Dai-nos novas formas!”
Não há mais tolos boquiabertos,
esperando a palavra do “mestre”.
“Dai-nos, camaradas, uma arte nova
– nova –
que arranque a republica da escória.